Phillip B. Zarrilli
Phillip B. Zarrilli
Cesário Augusto Pimentel
Cesário Augusto Pimentel

GITA


Nunca desejamos ser grandes. Os que ocasionalmente assim nos consideram apenas conhecem ou reconhecem o tamanho do esforço envolvido em nossa rotina de trabalho. Exclamam:

- No GITA, grande é a disciplina, gito o desejo de fama, gitinho o perscrutar pela virtuose e gitita a ambição estética.

Acrescentamos, a plenos pulmões:

- Carregamos nosso candeeiro, gitito, para o caminho da ética!

Nos anos de nosso advento (2006 e 2007), num pedacinho do norte do Brasil, dizíamos celebrar nossa "missa" semanal aos sábados à tarde. Éramos poucos, reunidos numa sala de paredes pretas, todos atentos e vivenciando a jornada estabelecida a partir do simples ato de respirar. E assim, de modo tão simples e modesto, por iniciativa do intrépido Cesário Sã, nos atávamos ao legado do mestre Phillip B. Zarrilli.

Não tardou para que a chama do candeeiro de C. Sã, Denis Bezerra e Juliana Tourinho fosse acesa sob o olhar atento de Edson Sã, a luz primorosa de Sônia Lopes, o instigante e cativo olhar de visualidade de Aníbal Pacha, os cuidados de produção de Rose Tuñas e os auspícios soturnos de Jean Genet. Nascia "Querela-Eu", em 2008. E por três anos seguidos fizemos "querelas" pela cidade.

Avançava 2011 e a outrora missa de sábado foi transferida e ampliada para as segundas, quartas e sextas-feiras - mantendo-se assim até hoje. A esta altura já visitávamos a casa do Sr. George Büchner, lugar onde permanecemos por quatro longos anos, ciceroneados pela métrica precisa do Sr. Fernando Marques. O dileto cavalheiro dos versos rimados fez-nos ver o Zé que há em Woyzech. E assim, como quem conhece e reconhece o vazio de tantos Zé(s) espalhados pelo Brasil, Silvia Luz e Brida Carvalho visitaram, em 2012 e 2013, sete cômodos daquela casa que havia sido pintada por Fernando. "Zé(s): sem eira nem beira" reacendia novamente a chama de nosso pequeno candeeiro, jogando luz na sorumbática cidade de Belém.

A humilde residência que abrigava os irmãos siameses Woyzech-Zé continuou nos arrebatando por mais um ano para, em 2014, ser visitada em toda sua extensão por novos companheiros de jornada que sentiram o peso e a necessidade de gritar o nome daquele cidadão que nos rondava há anos:

- ""! Foi o grito que se ouviu ecoar da garganta embargada de Tainá Lima, Elise Vasconcelos, Thainá Cardoso, Geane Oliveira e Fabrício de Souza. O coro retumbante de suas vozes, denunciando a humanidade destituída de tantos Zé(s) mundo afora, repercutiu cruelmente nos poucos que testemunharam aqueles cinco encontros, mas, sobretudo, repercutiu cruelmente na pele dos jovens atuantes que aprenderam a cultivar a chama incandescente que alimenta os candeeiros pra vida, antes de qualquer coisa.

A hospedagem na casa do Sr. Büchner nos deixou com uma ressaca e tanto. Mas era preciso seguir adiante. Coube aos pés de Geane Oliveira traçar o caminho até outras paragens, levando-nos para terras bem distantes, em 2015 e 2016. Seus pés, calejados pela dura vida no campo, nos arrastou até "Atena em solo viril". E, assim, o solo grego de Ésquilo conheceu a virilidade nua e crua de uma jovem atuante, digna de ser comparada a uma autêntica Erínia.

Dessa aventura em terras distantes retornamos, em 2017, fortalecidos pela voz feminina que tanto ainda tem a dizer, conquistar e nos ensinar, ainda que seja pela apropriação e subversão do trono de um monarca ensandecido como Lear. Do Rei louco, que se confunde com o Bobo, fissuramos o trono, rasgamos o manto, rachamos a coroa... para criar FENDA, a qual nos consinta, novamente, transportar a chama no candeeiro. Nesse andamento, agregam-se Camila Góes, Carmem Virgolino, Lu Borgges, Silvia Luz e Tais Sawaki a colocarem, com suas habilidades em conquista, o "Bardo do Avon" contra parede, para dele extrairem o sulco de vida de seus ritos pessoais. Complementarmente, labutamos o solo Afrânio, também escrito por Fernando Marques, atuado por Cesário Augusto, nesta faceta esmagado contra a parede pelo aludido escriba doador de estímulos em meio à escuridão do excitante.

Nossa pequena, gita, gitita, gitinha jornada prossegue.

Seguimos com o desejo de ser GITA, pois grande só a nossa vontade de encher o mundo com arte, se por arte se quer entender vida, reinventando-a

Fotografia em Plano de Fundo: Brida Carvalho.

GITA - Grupo de Investigação do Treinameto Psicofísico do Atuante Belém - Pará - 2017.
Esta página é uma ação da tese de doutoramento de Edson Fernando, sob o título provisório ARQUEOLOGITA, sob orientação da professora Bya Braga. DINTER – UFMG/UFPA. 
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